2007/09/17

1 X 0

Acho que descobri como o Chico conseguiu compor a letra para a música 1X0 do Pixinguinha. Fui ontem no estádio do Grêmio e a convite de um amigo (Anderson) assisti da sessão da torcida Avalanche. Não sei se você já viu, mas é aquela onde todos descem as arquibancadas quando o Grêmio faz gol. Ele escolheu um lugar que fica embaixo da arquibancada superior, e para a minha surpresa a arquibancada superior funciona como uma caixa de resonância. Quando todos começam a cantar o volume fica ensurdecedor, principalmente nos assovios.

Não consegui identificar ao certo, mas a minha esquerda a uns 50 metros de distância vinha um barulho mais forte, que parecia uma banda com bateria e metais. De lá também vinha as músicas que estavam sendo cantadas, que eu acompanhava cantando para o lado direito. Assim a música era propagada por toda a arquibancada. O mais impressionante é que atrás de mim tinha um cara com um celular. Parece que alguém ligava para ele para avisar qual era a música da vez, e então ele começava a cantar bem alto para incentivar a torcida a cantar a mesma música. Sinceramente, senti que eu participei de um coral de pelo menos 5000 vozes. Coisa de mexer com o cara.

Se não bastasse isso, ao sair o gol a torcida começou a descer a arquibancada urrando como um trovão. Diferente do que parece, a maioria desce caminhando, sem muito tumulto. A gritaria é amplificada pela arquibancada superior e ao retornar para ao meu lugar fiquei zonzo com tanta gritaria. E o mais engraçado é que eu não consegui ver o gol, e depois o Anderson me disse que a gente não está ali para ver os gols. Gol se assiste na TV quando chegar em casa.

"PULA, PULA!!". Junto com alguns hinos da torcida vinha uma onda em que todas as pessoas pulavam na arquibancada. Não tinha como ficar parado, pois a própria arquibancada tremia. Tremia ritmada como um coração. E quando a música começava a querer terminar vinha outra música e o grito: "PULA!!".

Acho que me apaixonei por um arquétipo que se chama Grêmio. Não é pela torcida ou pelo time, mas por tudo isso junto. Uma grande massa azul que conseguiu humilhar uma pequena e estática mancha vermelha no canto do estádio.

Aposto que o Chico consegue ver algo além no seu não tão bem sucedido Fluminense.

2007/08/06

A mídia e a construção da civilização

A mídia é um dos principais instrumentos responsáveis pela formação das civilizações.

Os seres humanos tem uma necessidade de viver em comunidade para garantir mais segurança para a preservação da espécie. Com capacidade de abstrair e criar conceitos os seres humanos criam símbolos para aumentar a coesão da comunidade. Estes símbolos servem como referência para os membros da comunidade, faz com que todos tenham algo em comum. Quando duas comunidades têm símbolos diferentes surge um impasse que freqüentemente culmina na guerra entre os símbolos/comunidades.

A mídia tem um papel central neste contexto. Ao transmitir informação, a mídia impõe uma forma de pensar, criando assim uma realidade. Realidade pode ser considerada como um treinamento de utilização dos nossos sentidos para interpretar e conviver com o mundo em que vivemos. Os métodos utilizados pela mídia são geralmente hipnóticos, tornando imperceptível ao observador a intensa descarga de conteúdo conceitual e moral recebida. Comunidades podem dominar outras comunidades utilizando a sua mídia para convencer outra comunidade de sua inferioridade e da necessidade de copiar as comunidades dominantes. As civilizações surgem com o domínio do instrumento mídia como modo de dominar diversas comunidades, utilizando-se de estudos sobre psicologia humana para aumentar a eficiência do processo de dominação. Este domínio resulta em uma escravatura branda, onde as comunidades dominadas não questionam ou rejeitam a situação. O sofrimento adjunto da escravatura é amenizado pela mídia do entretenimento, distraindo os dominados pela apresentação de estórias sobre outras realidades mais desejáveis. Nestas estórias os escravos se projetam em outra realidade e se sentem mais felizes do que em suas realidades próprias.

2007/07/29

Sublimes sabores

Os sabores são seres que assombram nossos sentidos

2007/07/22

Supremacia humana

Est-il vrai que l'homme parviendra finalement à dominer l'univers entier, à l'excepcion de lui-même?
Lester Ward, "Dynamic Sociology"

2007/07/15

OTÁRIO, APERTE O BOTÃO E AGUARDE

Se desenvolve em mim uma imensa inquietação com relação aos faróis de Porto Alegre com botão para a travessia de pedestres. Antes de discutir o problema dos botões preciso relembrar o significado daquelas faixas paralelas brancas compridas pintadas sobre o asfalto. As faixas de pedestre são lugares onde os pedestres tem a preferência de passagem. Para aqueles que já viveram em um país civilizado sabe-se que a simples aproximação do pedestre a faixa impõe ao motorista do carro que segue a mesma via a parada para permitir a passagem do pedestre. Nada tão simples quanto isso. Porém no Brasil esta faixa não tem significado nenhum e em alguns pontos de intenso transito de pedestres as operadoras de tráfego urbano se vem obrigadas a instalar equipamento para evitar atropelamentos. Porém, estas mesmas operadoras utilizam equipamentos que demonstram uma clara preferencia pelos motoristas, fazendo com que os botões de garantia da preferência ao pedestre pela travessia da faixa ocorra passados alguns minutos após o acionamento. Enquanto isso o pedestre pode: 1. esperar e se descobrir um otário por aceitar tal absurdo, 2. perder a paciência e tentar atravessar a faixa e correr risco de vida ou 3. desistir de usar as faixas de pedestres e tentar atravessar as vias em qualquer trecho, com ou sem faixa de pedestre, desrespeitar inclusive os faróis de trânsito e correr ainda mais risco (opção escolhida pela maioria).

Com isso surge um novo personagem: o pedestre kamikazi. Este indivíduo, desiludido pela negação ao seu direito de acesso as vias de trânsito, começa um ato revolucionário com o rompimento do contrato de respeito mútuo com entre o pedestre o motorista, formalizados nas leis de trânsito. Certamente com uma certa legitimidade, pois o mesmo contrato também já havia sido rompido pelos motoristas. No entanto, o pedestre não percebe a sua fragilidade e o risco que corre ao atravessar a pista em locais impróprios. Também não percebe que ao colocar a sua vida risco, empurra o dedo do motorista no gatilho em sua arma automotiva e assim torna culpado o motorista por algo que se confunde entre um assassinato e um suicídio.

2007/06/28

Ecochatos

Porto Alegre, 12oC

Ouvi hoje algo sobre um aluno da Biologia da UFRGS que impediu a derrubada de uma árvore para a implementação de um projeto de ampliação do restaurante universitário. Não duvido que esta árvore seja um plátano canadense. Como este aluno, várias pessoas defendem a preservação de indivíduos não humanos sem prestar atenção no contexto em que estes vivem. Uma árvore de plátano, plantado fora do seu habitat natural, não vale mais do que um pé de alface. Ela não faz parte de uma história natural. Não se desenvolveu juntamente com um grupo de outras espécies de árvores, cada uma lutando para encontrar seu nicho ideal. Espécies introduzidas por humanos só servem para o interesse humano, não interferindo efetivamente em nada na natureza. Já as árvores que fazem parte da floresta nativa tem um imenso valor. Uma pessoa que realmente se preocupa com a preservação da vida deveria focar seus esforços para defender as árvores de florestas nativas. Nem que para isso seja necessário deixar o conforto da vida urbana e arriscar a própria vida nas regiões de fronteira com as florestas virgens. Nestes lugares o verdadeiro desmatamento ocorre diariamente.

2007/06/17

Sobre a natureza dos avatares

Hoje me peguei novamente pensando sobre avatares. Essa idéia foi bastante longe, reunindo temas também interessantes como o conceito de humanismo e redes de relacionamentos pessoais.

Em um conceito bastante amplo os avatares poderia-se definir um grupo de indivíduos que se tornam capazes de entender um certo código. Este código, que não se baseia em regras, conduz ao desenvolvimento de uma civilização capaz de viver em harmonia. Este código não pode ser escrito, mas somente percebido intuitivamente. A aplicação deste código se reflete naquilo que constitui o humanismo: a capacidade do ser humano de ir contra os seus instintos naturais de agressão, acúmulo de bens, segregação, etc.

Uma vez conhecedores deste código os avatares iniciam também instintivamente a induzir a mesma capacidade intuitiva em outras pessoas. Com isso são formadas redes pessoais bastante coesas, onde seguidores se aproximam para se alimentar da saberdoria e bem estar característicos dos avatares. Certas vezes estas redes de relacionamento se estendem por várias gerações, baseado em fragmentos da vida dos avatares transmitido através da tradição oral ou escrita

Não consigo entender o que separa um avatar reconhecido em vida daqueles que continuam com seguidores após a sua morte.